sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Estar vivo

Às vezes estar vivo requer: comprimidos de passiflora, comprimidos um pouco mais fortes, chá pra dormir, ligação com a mãe, dançar até suar, chorar no banho, sonífero, calmante, aromaterapia, psicanálise, passe, massagem, amigos que te dizem: estou mal também.

Estar vivo às vezes demanda uma coragem doente de acreditar que amanhã, daqui a pouco, só por hoje, as coisas vão melhorar. Um pouquinho de cada vez.

 

Estar vivo também é sobre tomar caldos, engolir água salgada, bater a cabeça na areia e voltar tonto (eu só queria um mergulho).

 

Demanda oração, novena de vó, tapear a angústia como se ela fosse uma pessoa (mas na verdade é um planeta) tomar banho pelo simples fato de praticar uma ação. Aliás, para permanecer vivo é necessário ação – mesmo que em algum dia se trate de apenas respirar.

 

Estar vivo às vezes dá um trabalho do cão. Gosto dos que estão aqui na luta de transformar a dor em uma coisa bonita e significativa (estar vivo), porque me mostram que não estou sozinha na batalha.

 

Mas veja: estamos respirando, e os dias estão passando, e continuamos aqui.

 

Continuaremos aqui. E de toda lágrima no chuveiro nasce uma flor no ralo, prometo, que um dia te mostra que a vida dói, mas tem sentido, é bonita, e se apresenta para os que teimam.

 

Eu mal posso esperar para continuar viva. E para te ver.

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