terça-feira, 17 de julho de 2018

Nunca é tarde


Eu gozei pela primeira vez aos 50 anos no banheiro do escritório de advocacia onde eu sou sócia. Gozei com um grito abafado entre uma mão enquanto a outra quebrava o gancho de toalha que ficava preso ao azulejo. Gozei rindo, chorando, rindo de novo, com as pernas tremendo entre a cabeça dele me chupando embaixo da saia.
Tenho dois filhos e nenhum dos dois nasceu de um orgasmo. Eu achava que ser feliz era uma frivolidade, que na vida era suficiente trabalhar duro, colocar uma criança no mundo, viajar de vez em quando e amar mais ou menos um homem. O suficiente para conviver com ele todos os dias e transar uma vez por mês.
Eu achava um disparate querer algo diferente, mas desconfiava que deveria sentir mais.
Ano passado fizemos 25 anos de casados. Passei mais de um mês planejando a festa de comemoração, a lista de convidados, meu vestido, o buffet, o convite na gráfica, até que tudo começou a ficar pronto, menos eu. Os dias iam passando e eu sentia um vazio no estômago que meu marido na época chamou de gastrite nervosa.
Quando enfim tivemos a festa todo mundo se divertiu, menos eu. Alguma coisa parecia fora do lugar. No fim da noite, a caminho do hotel, eu coloquei as mãos do meu marido entre as minhas pernas torcendo para que as coisas começassem a melhorar, mas ele riu e me deu um tapinha no ombro. No dia que comemorei 25 anos de casada fui dormir sem trepar, e quando na manhã seguinte ele perguntou o que eu queria de café da manhã, eu respondi: me separar.
A decisão foi um choque na família, na academia, no grupo de amigos, só não foi um choque para Marcos, um dos advogados do meu escritório. Há meses ele me olhava com cara de faminto e fazia questão que eu percebesse. Um dia, depois de uma reunião, eu mandei uma mensagem pedindo para ele me encontrar no banheiro do escritório no horário do almoço. Ele sacou o que eu queria, somos todos adultos aqui, e quando entramos juntos no banheiro, sem dizer uma palavra ele tirou minha calcinha, entrou na minha saia e me chupou pelo que pareceu horas.
Minhas pernas tremiam, eu queria gritar, me esfregar na cara dele, derreter, e quando ele saiu do banheiro disfarçando, com meu cheiro na sua barba, eu quis dizer pra todo mundo que ninguém deveria se relacionar com alguém que não te chupe.
Voltei para a minha sala com a melhor piada interna do escritório e os próximos dias foram de Marcos me cortejando e fazendo sinal para que eu encontrasse com ele no banheiro. Explorei todo o Kama-Sutra em 3 metros quadrados ficando de quatro na pia de mármore, em pé na parede, e sentada nele no chão.
Me mudei de apartamento para recomeçar a vida e desenvolvi uma paixonite pela arquiteta do projeto. Eu não sabia se eu era gay, bi, eu não sabia quem eu era depois de todos estes anos, e quis descobrir. Ofereci para ela o primeiro jantar da casa nova e a jantei em cima da mesa que ela escolheu para a sala.
Entrei e saí de aplicativos, paquerei e fui paquerada, fiz massagem tântrica, comprei lingerie, vibrador, passei tardes inteiras sozinha bebendo vinho e me masturbando.
Meus filhos e meu ex marido, perplexos com meu comportamento no ano que passou, disseram que eu mudei. “Como pode alguém virar outra pessoa depois de tanto tempo?”.
Eu não virei outra pessoa, eu só fui eu mesma pela primeira vez.
Me amei com anos de atraso, passei muito tempo vivendo só pela beirada, descobri o orgasmo aos 50 anos, é verdade.
Mas nunca mais parei de gozar.