Eu tento fazer um bolo vegano de presente para uma amiga
enquanto alongo minhas costas para me livrar de uma dor crônica que é culpa
de uma cabeça que não para de pensar.
Eu não prego quadros, não dobro as roupas quando elas vem da
lavanderia, eu não sou boa em guardar amores em caixas e definitivamente não
faço bolos. Isso sou eu tentando dar sentido a um monte de coisas que me sobra,
tentando aplacar angústias e desejos com farinha de aveia e mensagens de texto
que nunca serão entregues.
Eu domino poucas coisas, mas sempre fui boa na arte de girar
pratinhos, todos eles estão aqui enquanto ou eu vejo o mundo acabar na minha
frente sentada comendo pipoca, ou fico em pé segurando uma mangueira de incêndio.
(Hoje
espero o mundo acabar e também espero o cheiro de banana com canela se alastrar
pela casa.)
Tenho tentado melhorar.
Perdoei (praticamente) todas as pessoas que me fizeram mal,
remendei meu coração com agulhas de crochê e cola quente,
tenho rezado para os meus santos, me alongado e tomado florais.
Eu tenho deixado o café de lado, feito pilates para tentar
remediar a dor crônica nas costas, mandado e-mail com explicações para os
atrasos de trabalhos acumulados, me matriculei na natação, tirei os aplicativos
de redes sociais do meu celular, escrevo o romance novo todo dia de manhã e
agora até cozinho.
(Tudo isso na tentativa de me adaptar para não sentir mais vontade de te comer ou sentar na sua cara porque sei que você faz mais mal do
que o bolo com lactose.)