Eu penso em você quando percebo que alguma coisa em mim ainda
dói. Quando vejo as marcas desse relacionamento como se alguém tivesse
colocando meu corpo num raio x e por lá visse uma ferida aberta, pulsante.
Ainda não é indiferença porque existe saudade, até porque acredite, o que eu
queria mesmo era ter memória boa, aqueles flashes de relacionamento bonito que a
gente guarda muito tempo depois. Eu queria guardar afeto, mas eu guardo trauma,
e essas coisas demoram muito para sair da nossa corrente sanguínea.
Eu te vejo e você é bonita, e te percebo forte, inteira, cheia de
personalidade e imagino você como eu, cercada de amigos maravilhosos, apreço
por músicas boas, desejo por viagens que mudam a vida e projetos que dão
um norte. Ele não é bobo, ele não se apaixonaria por alguém diferente e você é
coisa a beça.
Por isso mesmo quando eu te vejo, desejo que você seja feliz, que ele
te louve, e que eu tenha sido um lapso, um comportamento abusivo
momentâneo, algo que não vai mais se repetir muito embora eu aprenda
com as minhas irmãs que quem é assim, é pra sempre, e repete padrão e
passa o abuso adiante até que de abuso ele se torne abismo entre você
e alguém que você possa amar depois dele.
Pois depois de ter construído degraus que me levassem
a um novo amor eu tenho deixado pelo caminho a forma com que eu me olhava,
a forma com que ele me fez acreditar que eu era: incapaz, fora do padrão. E demorou tempo para eu
reconstruir minha autoestima estilhaçada e aprender a confiar que o
amor pode ser bom, pode ser leve e pode ser da forma que eu quiser.
(até que um dia ele foi, e foi maior até do que o
meu medo.)
Hoje, já de pé, torço para que sejamos duas: fortes,
resistentes, inteiras, nos amando e sendo vistas como o presente que somos.
Eu te vejo e desejo que você seja feliz e se você não for, que dure
menos no abismo do que eu. Que saia do buraco
escalando com mãos fortes, que seja capaz de amar novamente, que se
enxergue de forma generosa e que não aceite menos do que tudo.
E que seu peito talhado não te traga traumas e nem dor, que seja
só um lembrete para todas que vierem depois de você, de nós.