"Fuck my brains out" é a expressão que eu mais gosto da língua
inglesa e não existe nada em português que signifique isso exatamente. “Foder
até perder a consciência”, talvez. Aquele torpor do orgasmo onde você não pensa
em mais nada, sua cabeça fica em branco – talvez o único estado meditativo que
eu consigo alcançar – onde alguém poderia até abrir a porta do quarto no meio
do sexo, mas você não ia perceber.
“Fuck my brains out” é o que eu gostaria que acontecesse agora enquanto
você deita de costas para mim e eu fico brincando mentalmente de “ligar pontos”
com as pintas que existem nos seus ombros. Olha pra mim! Eu digo dentro da
minha cabeça. Olha pra mim e tira o vestido que ficou no meu corpo o dia
inteiro, que foi comigo para lugares e esteve na minha pele enquanto eu
desejava a pele de outros homens até chegar aqui e ligar pontos nas suas costas
esperando que você também me deseje.
Porque tem dias que eu quero mais do que os movimentos que eu já conheço,
tem dias que eu quero ser tirada pra dançar.
“Fuck my brains out” eu emano para que a mensagem chegue ao seu
subconsciente enquanto volto a pensar no homem que cruzou meu caminho na tarde
de hoje e que eu gentilmente agradeci e declinei o convite do acaso pensando em
você.
“Fuck my brains out” para que eu canalize o desejo que me sobra, porque
se eu penso em desaguar me vem aquela sensação na barriga que é meio ansiedade
meio culpa católica, mas se eu não dou vazão eu seco, faço cara de tristeza
enquanto leio braile nas suas pintas solicitando resgate.
“Fuck my brains out” para que eu não vire aquela senhora que dividiu o
banco no ônibus comigo e passou 30 minutos cantarolando uma música de forma
falsa para que a gente acreditasse que ela era uma pessoa feliz.
“Fuck my brains out” para que eu veja a imensidão do mundo e viva as
aventuras que acontecem na selva imaginaria da minha cama.
“Fuck my brains out” ate a gente brincar de arte abstrata com tanta
porra no meu edredom e na minha lombar.
“Fuck my brains out” para que eu esqueça de mim, de você, e por alguns
segundos, do mundo.
Para que tudo se transforme em silêncio, suor e torpor.
