Eu lembro da primeira
vez. Um travesseiro entre as pernas quando eu era criança, o travesseiro
molhado um tempo depois, a percepção de que entre as minhas pernas existia um
mundo.
Uns anos depois, já na
escola, minha melhor amiga me ligou depois da aula para me contar que tinha
descoberto uma coisa incrível.
"Coloca dois dedos
dentro de você. Depois tira e põe eles devagarinho. Faz umas cócegas engraçadas
e eu tenho feito todo dia quando chego da escola, será que é errado?" E aí
eu descobri o que era aquilo que eu sentia quando colocava o travesseiro entre
as minhas pernas.
Alguns anos depois, a
minha grande professora já tinha outros assuntos para me ensinar. Com 16 anos
ela já tinha transado com o primeiro namorado e comentava no intervalo da
escola sobre a experiência maravilhosa que é ter um orgasmo com mais alguém
envolvido:
Hoje
eu dei para ele de quatro.
Hoje
ele me chupou, eu fiquei com vergonha, mas deixei.
Hoje
a gente transou na escada do meu prédio.
E
como é gozar? (Eu perguntava)
É
como cair em um abismo sem ter aonde se segurar.
Eu não caia de lugar nenhum.
De todas as minhas amigas, eu fui a ultima a trepar.
No dia em que eu
finalmente perdi a virgindade, quase 19 anos e já morando sozinha em outra
cidade, meu namorado perguntou se eu me masturbava.
Eu disse que sim, todo
mundo faz, e ele pediu que eu não me masturbasse enquanto a gente namorava,
“senão você não vai gozar comigo”.
Terminamos, claro. E eu
continuei gozando sozinha e com outros homens que passaram pela minha cama
depois dele.
Já a minha amiga ficou na
cidade de interior onde morávamos e casou com aquele mesmo namorado. Fui à
festa de casamento deles e estava feliz por vê-la com o homem que amava, tantos
anos depois. O que não me saía da cabeça era se ela, minha grande tutora em
assuntos sexuais, tinha experimentado “cair em um abismo sem ter aonde se
segurar” com outras pessoas também.
Era necessário? Eu era
melhor do que ela por ter saído de lá e ter dado para outros caras? O que é que
define uma vida cheia de experiências?
A dúvida/julgamento
pairava na minha cabeça enquanto eu abocanhava um bem casado e fingia não ver a
crise do meu próprio namoro, que acabaria pouco tempo depois.
É assim mesmo? O
casamento acaba com o tesão ou era o amor que tinha acabado? É possível querer
a mesma pessoa para sempre? Eu sublimava a parte física do meu ex. O corpo que
eu já não morria para ver, o corpo que eu tinha banalizado, o corpo que eu
queria ao meu lado mesmo assim, de qualquer forma, todas as noites. Mas será
que eles se comportam assim com o nosso corpo também?
Eu pensava nisso enquanto
empacotava minhas coisas para mudar de casa, ao mesmo tempo em que a minha
amiga chegava de lua de mel.
O casamento dela começava
junto com a minha vida de solteira, e eu mergulhei nela.
O sexo me libertou e
ressignificou meu corpo. Eu mandei pencas de nudes, me meti em relações
abertas, fui terceiro elemento, fiz sexo por sexo e também me apaixonei pela
pior pessoa do mundo por causa de sexo.
Eu gostei mais de mim depois de gozar frouxo,
muito, de saber como me levar para esse lugar. Eu fui para o trabalho toda roxa
(a marca da sua boca no meu braço) vestindo casaco no dia mais quente do ano e
criei memorias que me salvavam de dias muito ordinários (o motel mais sujo da
cidade. Dormir no seu peito.)
Eu tive todo tipo de
relações e minha amiga continua casada com o primeiro homem da vida dela, mas
não acho que somos tão diferentes assim. Afinal, continuamos caindo no mesmo abismo.
As duas, sem ter aonde
segurar.
(Harper´s Bazaar, edição de maio /2016)
Lindeza!
ResponderExcluirEscrito por Vitória Frate (na falta de uma identidade oficial, rs)
Excluir<3 <3 <3
ResponderExcluirPaula, incrível!! Fiquei muito emocionada, parece que você está falando de mim. Obrigada!! E parabéns!!
ResponderExcluirCarol Poesia