segunda-feira, 4 de abril de 2016

Copacabana

Minha primeira noite sozinha em Copacabana. A primeira saída do metrô depois de um dia de trabalho. Andando pela Nossa Senhora de Copacabana, de repente um homem cai em cima de mim. O segurança de um restaurante chamado “Quitutes da Deusa” arremessa o cara para rua, que cai em mim e vai embora com o dedo em riste para o segurança, dizendo: você vai morrer!
Copacabana não é para distraídos.
Começo a olhar obsessivamente para trás. Lembro da minha irmã me dizendo: o medo atrai, e começo a olhar para frente de novo, mas tem um cara correndo no meio da rua e eu nem sei da onde ele vem.
Copacabana não é para os fracos.
Entro no meu prédio, a portaria de tapete vermelho que eu conheço tão bem. Dou boa noite ao porteiro que me olha tentando se lembrar do meu nome. Abro a porta. A sala ainda tem caixa e cheiro forte de tinta. A casa tem a mesma configuração que era da minha irmã, e isso me da agonia, porque a casa ainda não é minha.
Sento sozinha na sala para comer e penso que a casa ainda tem a mesma configuração que era da minha irmã, ainda bem, me sinto menos sozinha. Se eu fechar os olhos posso escutar minha sobrinha me chamar, e isso é bonito e triste, porque me dá saudade.
Copacabana não é para insensíveis.
Me dou conta de duas ou três coisas que se perderam na mudança. É a quinta mudança que eu faço em três anos, mas dessa casa aqui eu saí há sete. Moro agora no único quarto que nunca foi meu. Penso de novo na minha irmã, quero contar da mudança, mas tem fuso horário distante e um trabalho que me sugou a alma.
Copacabana não perdoa quem tem memória.
Todo mundo sente tudo. Lembro do cara que caiu em cima de mim, do outro correndo no meio da rua, ouço de longe um vizinho gritando com o filho e sei que está todo mundo aqui porque Copacabana é o único bairro que acolhe a todos nós.
As putas, os bêbados, os solitários, os malucos, os velhinhos, os estudantes, as famílias, as pessoas que moram na rua, e até a mim, que sou um pouco de cada um deles.
Copacabana é para todos.
(Acho que já escrevi isso antes)
Voltei para casa.



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