quarta-feira, 16 de março de 2016

E se.




Algumas músicas acabam comigo, algumas eu queria te mandar, mas acho que não posso.
Lembra aquela tarde dos discos? As horas que a gente passou entrando em todas as mini lojinhas daquela rua comprando tudo o que a gente gostava, “porque dinheiro é pra gastar com isso mesmo” e depois de sair de lá, bolsas cheias, bem menos grana e um vitrola meio velha no meu colo no ônibus, a gente ainda parou num bar.
Ninguém entendia a nossa lingua, a gente não entendia a deles, mas de alguma forma você conseguiu fazer o dono do bar concordar em ligar a vitrola e durante duas, três horas, a gente ouviu muitos dos nossos discos como se ninguém estivesse perto, bebemos negronis, e teve uma hora que você deitou a cabeça no meu colo e perguntou “porque a vida é tão complicada”.
Antes que eu te beijasse, você levantou.
Depois disso a gente andou até a minha casa e você subiu com a vitrola e os discos enquanto eu guardava a bicicleta. Abri a porta e tinha música de novo, e tem umas músicas que acabam comigo, você sabe, e você colocou Al green, que covardia, colocar Al Green. Me esquivei para o banho. Você não me beijaria. Me tiraria para dançar e não me beijaria e perguntaria porque a vida é tão complicada enquanto respondia um e-mail dela sobre que tipo de marcenaria vocês deveriam usar no quarto.
Saí do banho e você estava no sofa. Deitei no seu colo, você mexeu nas minhas canetas, escolheu a merda de um marca textos e escreveu em mim. Você lembra disso?
PLEASE HELP ME MEND MY BROKEN HEART. (E a frase ficou escrita na minha lombar por três dias)
No dia seguinte você ia voltar para o Brasil e eu continuaria minha jornada sabática por uns bons meses, sem ninguém.
A gente tinha essa mania engraçada de se encontrar pelo mundo, mas no último ano você tinha decidido não me beijar, não me comer, só que não entendia que ouvir meus discos, deitar no meu colo, escrever em mim e me encontrar em outro continente era mais intimo do que sexo.
Era mais fácil se eu só sentasse em você, eu dizia.
A verdade é que você sempre soube. Era você. Desde o dia um foi você, tudo o que veio depois foi tentativa de despistar meu coração de você, você me movia.
E agora você diz que está disponível para mim.
Vejo a polaroid do marca textos na minha lombar. Alemanha gelada, os discos, a vitrola quebrada que hoje serve de apoio para a planta da sala.
O quanto eu te queria, meu Deus.
E agora você pode. 
"Pode"
Podia ter sido foda.
Mas virou literatura.




Um comentário: