segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Sonho.

No sonho era assim, o mundo acabava. Do lado de fora era cinza, explosões, chuva, e a gente se escondia debaixo de uma estrutura de ferro – parte de um desses carros que passavam voando pelas nossas cabeças.
Você segurou forte a minha mão e disse que me amava. Aquela era a primeira vez. E eu disse “Eu te amo” de volta. Foi físico, a plenitude engraçada que você sente quando fala que ama alguém e realmente é verdade.
E a gente deitou na terra olhando para a frente, vendo tudo ruir, mas com a certeza absoluta de que iria sobreviver ao fim do mundo.
“Eu te amo, mas a gente não vai ficar junto para sempre. Eu te amo, mas acaba, eu sei. Eu te amo e mesmo sabendo que vai ter fim, eu não saio daqui. Eu não quero deixar de viver isso. Eu te amo, vai acabar, mas fica. Vale a pena.”
Desamor é quase morte, é fim do mundo. Sair de um relacionamento é reconstruir uma cidade do zero. Por isso a gente estava ali, no meio dos escombros, dizendo que se amava?
Você deixaria de ficar com alguém, mesmo sabendo que aquele poderia ser um amor imenso, desses de mudar a vida, se também soubesse que um dia ia acabar?
O que você faria?
Pensei nisso quando te vi abrir os olhos. Me encarou. As marcas do lençol na bochecha, o cheiro de manhã. Eu te amo que dói. Eu te amo e vai acabar, mas fica. Vale a pena.

(Para o blog da editora Guarda-Chuva, janeiro 2016)