quinta-feira, 20 de agosto de 2015

SOBRE (QUERER) SER LIVRE




Cena 1 – exterior – rua 
Você reaparece, mas é como se nunca tivesse existido.  Não este você, assim, me sorrindo como se eu fosse um sábado.
Cena 2 – interior – quarto
É tudo tão familiar. Sexo é como balé. Os movimentos coordenados – e eu conheço todos os seus. É lindo, confortável. E eu entendo tudo. Você apareceu de novo, mostrando quem eu sempre quis ver, só porque é confortável.
Porque você quer meu amor de mãe judia que também é puta. E tudo bem. Se não fosse confortável e injusto do mesmo tamanho.
Cena 3 – exterior – rua
Já é a quarta ou quinta vez que a gente se encontra. E agora você esbarra na minha mão, guarda minha mala no carro para que eu viaje e me pede para ligar quando eu chegar lá.
E você nunca pediu antes, em nenhuma das vezes que eu fui.



Cena 4 – interior – quarto
Eu volto para casa, para o quarto, para você. Te beijo na testa, na boca, no pescoço. Tem intimidade demais aqui dentro, e vida demais lá fora.
Eu quero sair.
Cena 5 – interior – quarto
Eu me angustio. Eu estou indo, eu resolvi me mudar. Eu digo que é ok a gente se encontrar mais um pouco, porque logo a gente não vai mais habitar a mesma cidade. Mas ir embora com você no peito é o oposto de ser livre.
E você me quer por causa disso.
Cena 6 – exterior – rua
Eu me despeço. Eu queria que fosse orgânico, não é. Eu tive que te falar. Eu tive raiva quando você voltou me querendo tanto, porque quando eu quis muito, você preferiu viver outros amores. Clichê. Quando você quer muito, eu descubro que é só porque eu não quero tanto. Clichê.
Eu te amo. Clichê.
Mas ser livre é ir embora suportando a própria solidão, o ciclo da vida, respeitando que o nosso amor pode virar o amor de outra pessoa amanhã.
Existe mais amor depois de você. Eu sei.
“E agora a gente precisa se apaixonar por outras pessoas.”
Clichê.

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