Os quadros da casa estão tortos. Eu prometo que vou ajeitar no fim de semana da mesma forma que prometo que vou escrever todos os dias. Existe um padrão, eu sei, de deixar que as coisas passem até que um dia eu me dê conta de que os quadros continuam tortos, o livro ainda tem dez páginas e eu ainda não saí da cidade.
Eu iria se tivesse água e emprego em São Paulo, mesmo que você já não esteja lá.
Hoje de manhã comentei na terapia que eu tinha entendido nos últimos meses que algumas histórias são apenas histórias e não construções de algo maior. Ela disse que não, que essas histórias são importantes porque são construções de nós mesmos, e em partes eu concordo, porque sei que no final a gente talvez seja mesmo um conjunto das nossas memórias.
O que eu não entendo é essa vontade, que é quase um dom, de insistir em causos e sentimentos que acontecem apenas na minha cabeça, essa teimosia em amar, em não conseguir ignorar os encontros (ou nunca, em momento algum, subestimar os encontros).
Porque você sabe que a gente sempre sabe quando um encontro acontece. Eu sei. É quando tudo é completamente natural e íntimo, mesmo que você só conheça a pessoa há um dia. Foi assim, não foi? Esse reconhecimento inédito, essa vontade de estar junto que é natural por não ser uma necessidade, o encontro é o oposto da necessidade, da ansiedade, do coração que sai pela boca. O encontro é vontade calma de estar junto porque simplesmente já se sabe que vai estar. É uma certeza palpável.
Mas sabe, ainda assim eu me questiono justamente pela forma como o universo foi cínico. Por ter te jogado no extremo oposto do mundo enquanto eu estou aqui, encarando meus quadros tortos e palavras tortas nesta cidade que eu já nem reconheço mais como minha. É impossível ignorar o encontro e a ironia do destino, é impossível não teorizar sobre todas estas coisas.
Talvez você tenha aparecido justamente para me mostrar que existe uma forma bem mais leve de ser amada, que eu não preciso me adaptar em relacionamentos esquisitos se no fundo o que eu gosto mesmo é de beijos longos e de andar de mãos dadas, que talvez o Rio seja mesmo uma cidade submersa neste momento, e que existem outras estradas, moradas e possibilidades.
Talvez eu nem ame você, talvez eu ame apenas uma ideia de você.
Porque quando você foi embora tudo era apenas o início. E era bom. E era promissor.
E não era amor ainda, entenda.
Era só o começo. E começos são sempre invencíveis.
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