quinta-feira, 20 de agosto de 2015

RETORNO DE SATURNO




Sábado de manhã
Eu crio narrativas, acredito na minha própria ficção. Acredito em você durante dois minutos, até você me mostrar seu sadismo que na verdade é culpa.
Eu estou nessa porque quero, verdade. Pelo sexo inédito, verdade. Por ele e pela palavra, porque no meio das suas oscilações você é o cara mais legal do mundo por dez minutos. E esses dez minutos me envolvem, frases feitas, suas pernas, seu pensamento rápido, me envolvem.
Eu gosto quando você me come de quatro, mas também gosto quando você me pega pela mão.
Mas não é sua obrigação lidar comigo. E não é meu desejo esse amor pesado e sádico. Que nem é mesmo meu.
Não se termina coisas que não começaram, coração. Não precisa ter fim, eu adoeço e me curo sozinha.  Antes que nascesse em mim eu matei, e você nem soube.



[…]
Segunda-feira
Quando cheguei, A. me esperava na porta de casa. Me ajudou a subir com as compras, abriu o vinho. Não forçou nenhuma conversa, não perguntou nada. Dormi pesado. Quando acordei, ele passava a mão no meu cabelo, me olhava e sorria.
Lembrei da última noite, de você no extremo oposto da cama. Não culpo sua idiossincrasia, nem a sua forma de dormir. Não te culpo por nada.
Abro os olhos e outro homem me recebe, me coça a cabeça e me sorri. Ainda assim, não é minha obrigação amá-lo de volta ou ficar agradecida por ele me tratar bem.
Me querer ao lado na cama, desejar ser a primeira coisa que eu vejo pela manhã, deve ser o sentimento primário de quem quer que me ame.
Não o seu.

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