Enterrar um amor que não começou é uma das grandes crueldades da vida.
Enterrar antes de ele vir a ser. Antes de acabar, de se esgotar sozinho ou num domingo à tarde, antes do meio, antes que ele acabasse com a gente.
Antes de tudo que poderia ter sido.
Poucas coisas são tão cruéis como “aquilo que poderia ter sido”.
Velar a possibilidade tímida, mas tão presente. Ignorar o corpo do outro, o cheiro do outro, o peso do outro em cima do seu corpo. Eu não aprendi a fingir que o amor não existe. Não sei não atender a ligação do amor. Não responder. Não querer deitar na cama, pegar pela mão e andar pelo mundo.
Da crueldade de ter apenas memória boa do amor. De antes dele ser amor (porque você teve que enterrá-lo antes que ele começasse, é preciso lembrar disso), de só conseguir lembrar de um monte de sorrisos bestas, memórias compartilhadas, arrepios no meio do dia. Da crueldade de ter isso e de não ter mais.
Da crueldade de desapegar. De deixar ir até mesmo esse, que não poderia mesmo ser seu.
Principalmente esse.
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