Eu cheguei a acreditar que estava doente.
Um dia ela me perguntou: será que você não gosta dele porque
ele gosta de você de volta? Ou porque ele quer te pegar pela mão, e dormir ao
seu lado, e se encaixar nas suas coxas muito além de querer colocá-las na boca?
Porque ele quer te beijar e te engolir, mas deixar sua alma a salvo.
Esse que quer te deixar
segura. Esse que te quer como você é.
A vida não precisa te deixar com o coração na boca junto com
gosto amargo para ser interessante. A vida pode cheirar a pão na chapa com
manteiga e a lençol de domingo e ser feliz ainda assim.
E depois de tanto tempo, eu comecei a entender que estava
doente. E quis melhorar, e quando comecei a melhorar, dei todos os créditos a
ele.
“Eu disse para todos os meus homens, que eles me faziam ser
alguém melhor. Eu menti. Eu nunca fui uma pessoa melhor ao lado de ninguém, mas
do lado dele eu sou. Para este eu falo a verdade”.
E ela disse que eu devia parar de depositar no outro a culpa
pelo que eu fazia de errado e pelo que eu fazia de certo. Estava tudo bem sim,
mas não era ele, era eu. E ele só chegou porque eu permiti que ele chegasse,
porque eu quis conhece-lo.
Amor pra mim é acidente, é arroubo. Mas da última vez que me
tiraram o ar eu demorei um tempo para aprender a respirar sozinha mais uma vez.
Eu nunca mais mergulho sem um snorkel.
E se você me perguntar como é, eu te digo que não é fácil. É
como abandonar uma droga, é como parar de fumar.
Durante muitos anos eu pensei em como seria abandonar o cigarro,
esse troço que era tão parte de mim. Como as pessoas se sentiam? Era uma falta
no meio do dia? Era físico? Era enlouquecedor? É.
Tem um mês que eu não fumo.
Tem dias que eu quero bater com a cabeça na parede, tem dias que eu nem sinto,
tem dias que eu acho que esqueci alguma coisa em casa.
Deixar um padrão e uma forma dolorida de amar é assim. Você
questiona, mete a cabeça na parede, sangra por dentro, e quer sair por ai
acendendo todos os cigarros, queimando a cidade inteira. Mas um dia acalma.
Eu achei que estava doente. E foi bem ai que ele perguntou
se eu queria ir embora daquela festa com ele.
Eu não fui.
No dia seguinte ele perguntou de novo.
Eu preferi continuar
lá.
E um dia ele desistiu de pedir, mas me olhou com aqueles
olhos de homem bom e disse que ao invés de me levar embora, preferia ficar ali
comigo.
E ficou.
Meu homem bom às vezes me diz que algumas pessoas merecem
morrer.
Meu homem bom diz que não perdoa ninguém.
Meu homem bom não é assim tão bom, mas ele sabe que eu também não sou, e ainda ama o pior
de mim.